quinta-feira, maio 27, 2021

O céu de Maio...

Fomos a Évora. Uma consulta para seguimento, em Portugal, do bebé. Enquanto a E. foi ao médico, eu fiquei com o S. e o X. no centro da cidade, aproveitando para ver o R. e o C., que já não via há algum tempo.

Confesso que o dia foi longo e começou com aulas de máscara ao som de uma rebarbadora. Coabitamos com o Covid e com obras na escola, uma mistura interessante. A verdade é que o ruído me afecta, me desequilibra e me passa factura. Por vezes penso que a minha família não o entende e me põe na cara falta de paciência. Sei que estão enganados (e não lhes desejo o mesmo tipo de exposição sonora - e não só - que eu), contudo, há momentos em que me vou abaixo em convicção e carrego culpas alheias. Vou-me aguentando em dias assim e tenho medo que se repitam com mais frequência.

Talvez por isso, os meus amigos, bem próximo do que considero família, me tenham visto mais abatido, mais cansado e com dificuldade em concentrar-me. A isto somo-lhe uma sensação de já não ser possível agarrar-me ao solo materno e recarregar baterias. Voltar a Évora é voltar a um sítio em que a minha casa já não existe. Preferia que fosse uma ruína e vez de propriedade de outrem, indisponível para me receber.

Tocar terra eborense hoje não me deu força, não me conectou com as raízes às quais jurei ser leal. Continuei no ruído, na rebarbadora a cortar-me pensamentos e a caírem en cacos no chão da minha fadiga.

Mas à volta, ainda antes de sair da cidade, os meus olhos contemplaram a silhueta da Sé no céu de Maio. As nuvens eram belas e não ocultavam a aparição do que fui no que sou. A terra da qual brotei não me deve nada, e não mo esconde, tal como não me esconde que este mês sempre foi o mais importante para mim, uma criança que ia rezar o terço à capela do bairro ao final da tarde, ou um rapazola cujo crepúsculo o ajudava a encontrar beleza e calma em deambulações ao redor das muralhas.

Volto a Évora, não volto a casa, mas encontro-me. Senti silêncio. Acho que a rebarbadora foi desligada. Espero poder dormir.


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