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"Kazuo Dan escribiendo en Santa Cruz", ilustración de David Carnerero |
quinta-feira, abril 06, 2023
"Kazuo Dan: el poeta del país del sol naciente que se enamoró del sol poniente" - Luis Leal in "Shibumi", nº34, enero, 2023, pp. 38.43 (ilustración de David Carnerero)
Revolta culinária: a batata à batatada!
quarta-feira, abril 05, 2023
A divagar sobre mamas...
terça-feira, abril 04, 2023
Casimiro de Abreu - Meus oito anos
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
(1837 - 1860)
(Fotografia de Xavier Donat em Baía Formosa, Rio Grande do Norte, Brasil)
Pierrot Men’s ‑ Baobabs Avenue
domingo, abril 02, 2023
Perspectiva zenital
2/IV/2023 Como seria a infância se a criança tivesse perspectiva zenital? Assumir-se-ia como uma divindade qualquer a brincar com a nossa existência desde uma posição privilegiada? A alma da criança não se expande na perpendicular, nem necessita proporcionalidades realistas, é como a do artista, proclive ao vôo e sensível à vista dos pássaros, esses seres alados que ignoram se é a autenticidade da vida ou uma cena que lhe calhou presenciar.
¿Cómo sería la infancia si el niño tuviera una perspectiva zenital? ¿Se asumiría como una divinidad jugando con nuestra existencia desde una posición privilegiada? El alma del niño no se expande en la perpendicular, ni necesita proporciones realistas, es como la del artista, propensa al vuelo y sensible a la vista de los pájaros, esos seres alados que ignoran si es la autenticidad de la vida o una escena que les tocó presenciar.
sábado, abril 01, 2023
Estremoz, "El Rastro"
quinta-feira, março 30, 2023
Nota do dia (depois de ver tanto fumo ser vendido)/Apunte del día (después de haber visto como se vende tanto humo)
quarta-feira, março 29, 2023
Uma fotografía de Eleni Vraka
Um canto da cidade grega de Salónica (Σαλονίκη / ou Tesalónica, Θεσσαλονίκη). A autora da fotografia é Eleni Vraka (Ελένη Βράκα). No sinal da parede pode ler-se em grego: “Não estacionem. Saída de parking”.
Penso que uma briga...
terça-feira, março 28, 2023
Alma e IA
Ramón tiene siempre razón...
segunda-feira, março 27, 2023
Goethe diz-me...
domingo, março 26, 2023
John Wick (IV)
sábado, março 25, 2023
Apresentação de “Criptopórtico” - Ruy Ventura (Portalegre, 24/III/2023, Fotos de Mila Mena)
Apresentação de Criptopórtico de Ruy Ventura (Portalegre, 24/III/2023)
Antes de mais, permitam-me saudar todos os presentes e agradecer ao Ruy Ventura a amizade e a consideração ao querer ter-me aqui, nesta cidade tão importante no percurso vital de ambos, a acompanhá-lo na apresentação deste seu Criptopórtico. É uma honra e uma responsabilidade, pois as minhas palavras são limitadas para a apreciação de um poeta como o Ruy Ventura, mas, como sabe, a estima que por ele tenho exige-me a tentativa de superar as minhas limitações.
Conheço a obra do Ruy Ventura desde 2015 e tive a privilégio de o conhecer pessoalmente, também no mesmo ano e, casualmente, também num mês de março, ao apresentá-lo em espanhol na Aula de Poesía Díez-Canedo de Badajoz, onde a figura do poeta se sobrepôs às facetas de investigador e de divulgador cultural (destacando-se como co-director da revista iberoamericana de cultura Devir), sendo parte integrante de uma lista de ilustres da lírica peninsular que merece a pena consultar.
Resgatei para português o que escrevi na época e parece-me pertinente voltar a partilhá-lo em público: “Não é o tempo cronológico que põe as vírgulas na poética de Ruy Ventura, quiçá alguns grãos de areia ou ramos podados de alguns momentos que enchem uma casa, cujos alicerces são uma espécie de raiz a suster uma arquitectura de silêncio. Desde o relevo encontramos a força telúrica da serrania, a escrever e a reescrever a sua voz. O poeta persegue imagens a caminhar com a lucidez do vate que não fecha os olhos, que fotografa tudo porém sem encontrar nada para revelar. E por que razão se tem de revelar o olhar? (...) Ao optar pela prosa, narra o poético que encontra no seu universo, com uma linguagem a deixar deslumbrar-se pelo seu próprio movimento, chegando ao ponto de permitir ferir-se pelas suas imagens. (...) Ao guardar nos olhos as sementes, o poeta logra abandonar a brevidade e as correntes que podem ser as nossas raízes, obturando, sempre, em gestos impregnados de nitrato de prata, a sombra da sua original voz poética.”
Hoje, volvidos oito anos, Ruy Ventura não é apenas esta poesia em prosa compreendida nas minhas limitações de leitor de então, esse lirismo narrativo cuja riqueza de léxico (e que riqueza, diga-se de passagem!) sobrepassa densidades, adjetivações e adentra-se num território vasto, possivelmente indecifrável, com exceção para aqueles que conhecem a agrestia desta serra e a solenidade destas vistas.
Contudo, a herança do húmus, quer biográfico, quer da devoção a Raúl Brandão, afastam este Criptopórtico da exclusividade da mencionada solenidade, isto é, a erudição que o leitor encontra nos primeiros capítulos “Contramina” e “Arqueologia” (onde o poeta denota outras vocações e a presença da academia, que o reconhece como historiador da arte e intelectual) não é alicerce e dilui-se num tom intimista, desmorona-se em plena “Sismografia”, evidenciando a luta entre uma crença que não é impermeável à dúvida que, enquanto elemento de escuta, é também a voz de Ruy Ventura.
“Passagem”, por seu turno, não depende da dúvida e não questiona a redenção para a literatura de Judas Iscariotes, Simão Pedro ou Lúcifer, admite a poesia como via sacra e assume o poeta como peregrino, não só através do caminho, mas pelo desbravar da escrita. Admiro esta “Passagem” de um poeta que, num presente dessacralizado, tem a coragem de se ajoelhar perante um altar matriarcal, que muitos são incapazes de conceber para além de uma simples manifestação de “fé de Portugal”.
A arquitectura deste Criptopórtico leva-nos à base alicerçada da casa, da infância, do passado de um jovem poeta presente no “horizonte com cidades ao fundo” de um poeta adulto que, como tantos outros, saiu, da sua cidade sem jamais abdicar da honestidade para com o seu substrato.
“Apócrifos”, possivelmente o mais biográfico de todos os capítulos, encerra esta antologia com um poeta que, através da sua lírica, se compromete mais além da poesia, indagando sobre o monocultivo artístico, a frivolidade de um certa intelectualidade (se é que podemos mencionar intelectualidade) e se assume como cidadão livre e guardião de valores que esta pós-modernidade, líquida, carente de pensamento simbólico e deselegante, faria com que José Régio, provavelmente, reecrevesse o seu “Cântico Negro”, reivindicando transfusões de “sangue velho dos avós” para alguns que se autoproclamam poetas e que nem sequer lêem, muitíssimo menos poesia…
Ruy Ventura pergunta-nos se “valerá a pena escrever?”. Atrevo-me a responder-lhe que escrever é uma necessidade à qual nos prostramos como seres marrecos que somos, ou, como ele próprio bem sabe, há quem seja como esses rebentos, esses pés de burro, que teimam em resistir à pode e ao herbicida, e, se vêem a sua sobrevivência ameaçada, têm a lucidez de se transplantar.
Caro amigo, não sei se te lembras, mas, no dia 24 de Julho de 2015, escreveste esta discreta entrada de diário que sublinhei sem imaginar que hoje, nesta bela cidade de Portalegre, ta ia recordar:
“Gosto de ler, pensar e escrever nesta espécie de jardim sem flores, fitando as oliveiras. Como eu, são alentejanas exiladas que, apesar do desterro, vão agarrando a terra com as raízes, produzindo rebentos, resistindo a podas sem tino, produzindo fruto que só alguns aproveitam. Sobreviveram ao deserto e à barragem, mas tiveram de migrar. Também eu, se me permitem.”
Migrar não se adapta a ti (e, se me permites, tão-pouco a mim), nem sequer esse transplantar típico das nossas oliveiras. As tuas raízes há muito que superam pedra, entulho e secas circunstanciais, têm a longitude da nossa Ibéria e bebem em vários mananciais… No entanto, nada como podermos saciar a nossa sede na terra que nos brindou generosamente com as primeiras gotas…
Muito obrigado pela vossa atenção.
Luis Leal
quarta-feira, março 22, 2023
Apresentação de "Criptopórtico" de Ruy Ventura (Portalegre, 24/III/2023, 17:30h)
segunda-feira, março 20, 2023
Faleceu o Sr. Rui: "É bem possível que no céu já se possa tomar um bom café...".
Quando soube do falecimento do Sr. Rui pensei: "É bem possível que no céu já se possa tomar um bom café...".
Cuando me enteré del fallecimiento de Sr. Rui pensé: "Es bastante posible que en el cielo ya se pueda tomar un buen café...".
domingo, março 19, 2023
Uma fotografia de Orlando Azevedo
sábado, março 18, 2023
La mejor manera de terminar la jornada...
quarta-feira, março 15, 2023
"Yo no sé qué decir de los españoles" - Ian Gibson
domingo, março 12, 2023
"Criptopórtico" (2022) de Ruy Ventura
quarta-feira, março 08, 2023
Para todas as "Mulheres" (da minha vida)/Para todas las "Mujeres" (de mi vida)
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Mulheres perseguidas à coronada... (Imagem extraída da revista Sábado nº 470 de 2013) |
terça-feira, março 07, 2023
sábado, março 04, 2023
Nota do dia/Nota del día (4/III/2023)
sexta-feira, março 03, 2023
"La era de los poetas menores de acerca" - Charles Simic
terça-feira, fevereiro 28, 2023
"Por la vida como aforismo" - Ramón Andrés
quinta-feira, fevereiro 16, 2023
Espartano X
domingo, fevereiro 12, 2023
Las zapatillas al final de la cama...
terça-feira, fevereiro 07, 2023
domingo, fevereiro 05, 2023
Houve muita luz...
terça-feira, janeiro 31, 2023
"Longe de tudo, sou quimérica saudade..." - Teixeira de Pascoaes
domingo, janeiro 29, 2023
Presentación del poemario "La espiral del asombro"/"A espiral do deslumbramento" de Adolfo Rodríguez (3 de febrero de 2023 - MEIAC de Badajoz)
Hace años escribí que mi buen amigo Adolfo Rodríguez “mantiene esa genial esencia/de un hombre afortunadamente despistado”. El despiste a que me refiero es de los que no dañan nada ni nadie, estilo olvidarse donde dejó la bicicleta porque estaba prestando atención a la belleza que se hace “un lugar en la memoria” y “un paréntesis de sol” en nuestras ventanas… El próximo viernes, 3 de febrero, en el MEIAC de Badajoz, estaré con él (y con mi ilustre compañero Carlos Criado) en la presentación de su “Espiral de asombro” disfrutando del mejor de sus despistes: su luminosa poesía.
Há anos escrevi que o meu bom amigo Adolfo Rodríguez “mantém essa genial essência/de um homem felizmente despistado”. A distração à qual me refiro é das que não fazem mal a nada nem a ninguém, estilo esquecer-se onde deixou a bicicleta porque estava a prestar atenção à beleza que se torna “um lugar na memória” e “um parêntese de sol” nas nossas janelas ... Na próxima sexta, 3 de fevereiro, no MEAIC de Badajoz, estarei com ele (e com o meu caríssimo colega Carlos Criado) na apresentação do seu “A espiral do deslumbramento”, a desfrutar da melhor das suas distrações: a sua luminosa poesia.
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Presentación del poemario "La espiral del asombro"/"A espiral do deslumbramento" de Adolfo Rodríguez |
quinta-feira, janeiro 26, 2023
A Filipa Leal era para ter vindo uma “quinta-feira”.../Filipa Leal iba a venir un “jueves”...
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Foto de Javier Figueiredo |
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Foto de Adolfo Rodríguez |
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Foto de Adolfo Rodríguez |
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Foto de Adolfo Rodríguez |
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Foto de Pedro L. Cuadrado |
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Foto de Mafalda Veiga |
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Foto de Mafalda Veiga |
Presentación de Filipa Leal (en el Aula de Poesía Díez-Canedo, 25/01/2023) por Luis Leal
Presentación de Filipa Leal, (Aula de Poesía Díez-Canedo)
Después de dar la bienvenida a Filipa Leal, de agradecer a Fernando de las Heras la confianza para hacer esta presentación y de daros las gracias por vuestra presencia, debo confesar que mis amigos se meten conmigo y dicen que estoy aquí presentando a mi prima. No es verdad, Filipa no es mi prima a pesar de que compartimos el mismo apellido, que, disculpad mi atrevimiento, me parece muy bonito y nos remite para un valor posiblemente mal entendido por la contemporaneidad. Sí que hay dos verdades (e ironía al mismo tiempo) en esto de los primos. Efectivamente, una de las verdades es que fue mi primo Luis Neves quien, en 2015, me dio a conocer a Filipa Leal a través de su “Pelos leitores de poesia” (“Por los lectores de poesía”), regalándome un manifiesto que en mi última mudanza se ordenó demasiado bien y no lo encuentro, lo que me genera esa frustración típica de quien ama a los libros. Y, la otra verdad, la que tiene su mezcla de humor y amargor, es que en realidad tengo una prima hermana llamada Filipa Leal que jamás conocí y, si no fuera por esta presentación, es posible que ni siquiera me acordara de su existencia…
Pero no es de este Leal de quien estamos hablando, sino de una poeta, periodista y guionista que lleva veinte años publicando y es un nombre de relieve en la lírica de expresión portuguesa que podemos, igualmente, encontrar en los dos lados del Atlántico, publicada y traducida al español y al francés. También podemos leer su poesía en varias antologías portuguesas y extranjeras, publicadas en Grecia, España, Méjico, Holanda, etc., e incluso la podemos escuchar en la voz de Mónica Giraldo, cantante colombiana que adaptó y puso música al poema “Te digo por eso”.
Estudió periodismo en la universidad de Westminster y tiene un máster en estudios portugueses y brasileños obtenido en la facultad de letras de Oporto, ciudad donde nació en 1979, y la cual vemos bastante presente en su recorrido vital y en algunos de sus poemas. Badajoz ya la conocía como guionista desde 2017, cuando participó en una iniciativa de la Escuela Oficial de Idiomas, acompañada por la directora Patrícia Sequeira, para presentarnos su película “Jogo de Damas” con la cual obtuvo el premio al mejor guión de los festivales de cine de Chipre y Copenhague. A todo esto hay que añadir y destacar la importante labor de divulgación literaria que Filipa Leal presta, junto a Pedro Lamares, en la presentación del programa cultural “Nada será como Dante” del segundo canal de la televisión pública de Portugal.
No hace falta una mirada atenta al programa que presenta para discernir en Filipa Leal una elegancia que compagina con su labor poética. Sí, elegancia (sin ningún elitismo o seudoculturalismo), sí, esa buena proporción, esa armonía formal, ese refinamiento de léxico y sutileza que, desde mi perspectiva, no se encuentra a menudo y no abunda en muchos que se nombran a sí mismos poetas.
La poesía de Filipa Leal, acostumbrada al cambio, al ritmo cosmopolita, a las rutinas de un ser humano nacido antes de la masificación de internet y hecho adulto en ese “topos” de “no-lugar” urbano, nos pregunta ¿Cómo sobrevivir a una ciudad líquida? ¿Cómo sobrevivir al naufragio de la soledad? ¿Cómo sobrevivir a la segura incerteza de los horarios de la muerte que es como el dentista, nos hace esperar, y ni siquiera nos pone unas revistas en la sala de espera para confortarnos.
Existe gracia en los poemas de nuestra autora, decantándose por una ironía que no esquiva los versos de tono diegético sencillo, como suelen hacer los poetas con mundo, a los que “les duelen los ojos de haber visto ciudades”, y con el útil y ambiguo suelo de la infancia. Cayendo en la repetición, quiero afirmar, esto no es para cualquiera. Filipa Leal puede enunciar que va a traicionar el poema, que no le “gustan los supermercados, ni los poetas de supermercado” (posiblemente lo que aquí en España se denomina “parapoetas”), pero lo que la autora presenta es una lealtad a la poesía, a un género impregnado de mar (quizás, a la par de “saudade”, lo único que denuncia alguna latitud en su lírica) y que asume un principio de una oración.
Filipa Leal no traiciona sus poemas porque, como poeta, entiende el lugar de la poesía y de la escritura en su mundo y se lo advierte a sí misma: “Ponte en camino, cállate un poco. Y haznos un favor a todos: no escribas una línea mientras estés por allí.”
Son innumerables los ejemplos que lo hacen discutible, pero sabemos que los que solo escriben no suelen vivir con atención plena y la poesía de Filipa Leal es también la de una generación, que, en primera persona, conoce el machismo, la precariedad, el desempleo (aún más si eres de los inútiles de las letras), vivió de cerca la emigración y las crisis mundiales, siendo ella de la primera generación hija del matrimonio de conveniencia europea pero que su madre Europa le echa en cara todo y nos hace pagar sus deudas.
Francisco Umbral decía que Ramón Gómez de la Serna era un escritor para escritores, lo que es un verdadero elogio de un literato a otro, no es exactamente lo mismo que Filipa Leal quiere decir con su verso “Escribo para los viejos”, pues nuestra autora, a pesar de su relativa juventud (y de que podíamos hacer la analogía de que es una poeta que escribe para poetas), sin duda es una poeta que llega a los verdaderos lectores de poesía, esos que, independientemente de la edad, de si son escritores, críticos literarios, poetas zen, poetisas proclives a la música contemporánea o la más alta representante de la poesía cursi, encuentran en el poema un lugar donde habitar.
Filipa Leal iba a venir un jueves al Aula de Poesía Díez-Canedo, en portugués “à quinta-feira”, pero al final la tenemos aquí un miércoles y tenemos el privilegio de contar con su presencia física y su talante poético. Filipa Leal tiene toda la razón cuando dice “que oír es la manera más pura de callar” y a mí solo me queda callarme. Muchas gracias.
Luis Leal
Badajoz, 25 de enero de 2023
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Portada del cuadernillo de poemas de Filipa Leal del Aula de Poesía Díez-Canedo de Badajoz (2023) |
segunda-feira, janeiro 23, 2023
Filipa Leal en Badajoz (25/01/2023)
sábado, janeiro 21, 2023
Évora, 21/01/2023
sábado, janeiro 14, 2023
Lisboa, 14/01/2023
quinta-feira, janeiro 05, 2023
La vieja Dakota...
segunda-feira, janeiro 02, 2023
"Pecium", en latín un fragmento o pieza rota, en español "pecio".
domingo, janeiro 01, 2023
O primeiro café do ano...
domingo, dezembro 25, 2022
"The Fabelmans" - Steven Spielberg
Natal 2022
quinta-feira, dezembro 22, 2022
A observar a natureza humana.../Observando la naturaleza humana... (apontamento/apunte)
quarta-feira, dezembro 21, 2022
sexta-feira, dezembro 16, 2022
“O passado não é um sonho” – Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 162., p.68
“O passado não é um sonho” – Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 162.
“Tinha oito anos quando o meu avô me agarrou a mão e não a soltou até que encontrámos os meus pais em Atenas. Quem sabe o que poderia ter acontecido se tivesse ficado na aldeia. Era 1946. Princípio da Primavera de 1946. As amendoeiras floresciam lado a lado e o campo estava no seu esplendor”. Assim começa um dos livros mais autobiográficos de Theodor Kallifatides, porém ainda desconhecido do mercado editorial português que recentemente acolheu “Outra Vida Para Viver” com a chancela da Quetzal. Se de mim dependessem critérios editoriais, começaria por traduzir este “O Passado Não É Um Sonho” do escritor grego exilado na Suécia que decidiu fazer da sua língua de acolhimento, o sueco, a principal para a sua obra até aos últimos anos em que regressou à sua língua amniótica. Desde o primeiro momento em que me cruzei com a sua obra, deleitei-me com uma escrita simples, contudo magistral, a narrar a sua vida desde que abandonou a terra natal até que a ela retornou, volvidas décadas, para o homenagearem já como escritor consagrado. Desta forma acompanhei a sua infância e adolescência numa Grécia governada por regimes autoritários, vi nascer a sua consciência política e de classe, assisti à descoberta da sexualidade e do amor, embarquei para o exílio e admirei a sua surpreendente capacidade para refazer a sua vida laboral e criar uma família, enquanto se afirmava como escritor de ficção, ensaio, autobiografia e do género, agora tão na moda, de autoficção. Cheguei a Kallifatides graças a outro grande (e um dos poucos críticos literários que tenho como referência), o poeta espanhol Álvaro Valverde. A sua leitura tem sido um verdadeiro convite à reflexão e à escrita, e a verdade é que me parece que me penso (e me escrevo) de maneira semelhante (com a devida distância entre a mestria do grego a escrever em sueco e dum português a abdicar do infinitivo pessoal para expressar-se em espanhol).
“A Pátria é lá onde a vida não precisa de explicações”. Onde é exactamente esse lugar? Cada um tem as suas próprias coordenadas, como cada um tem o seu próprio destino quando se lembra “em demasia quem é”, pois nunca se atreverá a adentrar-se noutra sociedade e “será sempre um estrangeiro”. E como é possível ser-se escritor numa língua alheia ao ventre materno? Theodor Kallifatides tem a amabilidade de responder: “Um escritor ora escreve na língua que conhece bem ora na que não conhece, mas escreve. Talvez caminhe com muletas na outra língua, talvez avance de joelhos, talvez se arrastre como um verme, mas escreve, simplesmente porque necessita, porque a sua mensagem é maior do que ele mesmo.”. Não creio que tenha grandes mensagens, tenho grandes necessidades e medos. A literatura não é apenas narrar histórias, não é apenas ideias e mensagens, é o mistério da própria escrita e como ela é sinónimo da nossa condição. Indiferente a idiomas, escrevemos porque somos humanos. “O Passado Não É Um Sonho” é mais do que um livro, é uma declaração de intenções. Alguns podem perguntar, porquê recorrer ao passado para aludir a assuntos preocupantes de um mundo a voltar a investir parte significativa do PIB em armamento? Porque Kallifatides, que foi neto, filho, pai e hoje é avô, teme que o passado já não seja conhecido e ignorância é diferente de esquecimento.
Não sei se chegarei a avô, no entanto, ainda antes de conhecer este escritor, sentia não conseguir escrever o que antevejo como uma potencial tragédia: uma criança perder os seus pais. Eis a decisão de Kallifatides ser também a minha e agradeço-lhe por verbalizar esta necessidade impossível de se redigir: "Desta forma, [durante a guerra civil na Grécia, depois da 2ª Guerra Mundial] uma coisa era certa. A maior tragédia para uma criança era perder os seus pais. Talvez tenha sido quando tomei uma decisão que influenciou a minha vida mais do que qualquer outra. Jamais abandones os teus filhos. Nem mesmo morto”. Por isso escrevemos.
Crónica: "O passado não é um sonho" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº162, p. 68)
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Crónica: "O passado não é um sonho" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº162, p. 68) |