Onde é que encontramos a nossa verdadeira personalidade? Há apenas uma ou a nossa personalidade é um somatório de filtros com que nos apresentamos aos outros?
Sabe-se que a nossa personalidade(s) é dinâmica, se adapta resiliente às cicatrizes impostas à externalidade da vida e que, se há alguma raíz do pensamento moldado, remete-nos quase sempre para a primeira infância.
Ontem fui atacado por uma gastroenterite. Fui o último a sucumbir as defesas, patriotas dum corpo sem fado, cá em casa. Porém, não houve muralha gloriosa de glóbulos brancos que impedisse o fado do Gregório, febre e dores no corpo que teimam em enfatizar-se, sei lá porquê, nos meus antebraços.
Foi nesse estado febril de tantos filtros encontrados à pessoa que sou que decidi guardar em palavras esse estado.
Não sei como, pois que saiba ainda não temos o nosso ADN ligado com WiFi à internet, mandei de cabeça tantos e-mails e mensagens sem critério numa ADSL febril de banda larga de verdadeira estupidez que o sentimento de descontrolo me deu suores frios.
Tecnicamente, esta ligação biológica à rede far-se-á já amanhã. Seremos capazes de dominar os verdadeiros Estados febris que só com um somatório de filtros se tornam essência? Ver-se-á a impotência biológica face ao tempo? A libido reptiliana sem moral num instante com pegadas de dinossauros de milhões de anos?
O paracetamol, e findo o período de incubação do vírus gripal, aliviou-me os síntomas más não me tirou o medo do descontrolado, sem filtros que levo dentro, e que não sou eu e que não somos nós.
Refugio-me num canto distante dum continente febril que trata pessoas como vírus. Barra-lhe a entrada a garrote. À porta desse corpo, em contacto com a sua pele, gangrena gente, futuros febris sem filtros. Apodrecida a corda atada em garrote não há refugio do eu nem do nós. Somos o outro gangrenado.
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