Enquanto os turistas se sentavam para tirar uma "selfie" na Brasileira com um Fernando Pessoa gasto de tantos rabos sentados (e citações roubadas) em mesas de café, o Antonio Carrasco e eu fomos confrontados com a pobreza da poetisa que por aí deambulava a vender versos impressos numa A4 sem dinheiro para sobreviver. Vender poesia para comer é tão digno como qualquer outro oficio. Se vivemos numa sociedade em que se vende tudo por que motivo a poesia tem de ser grátis? Vender o intangível, o inútil, a arte feita miséria por condição, os versos desta Leonora têm tanta legitimidade como qualquer outro produto que possamos trocar por dinheiro.
Como poeta, que não me sei assumir por ter demasiada terra debaixo das unhas, tenho ganho muito uma percepção de mim, e dos outros, desconhecida até há bem pouco tempo. Esse é o valor que tenho tido em troca, dinheiro nem por isso. Pago a poesia que faço com o tempo dedicado à profissão que a academia me permite exercer. Que coragem abordar alguém assim na rua e assumir-se pobre e poeta. Essa coragem merece o meu reconhecimento, o meu apreço estético, o meu agradecimento por me recordar o valor da poesia. É mais fácil que alguém nos recorde o valor dos mercados.
Aqui transcrevo os versos de Leonora Rosado:
"Tens tanto medo
Da minha sede
Que abres sulcos
Na parede
Do Tempo"
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