O meus pais foram viver para uma aldeia há meses. A aldeia tem algo que ver com o nosso passado, mas não tem nada a ver com alguém que se criou em bairros periféricos de uma pequena cidade alentejana.
Acho que estão bem. Creio que estão felizes. Decidiram fazê-lo sem sequer ter uma conversa comigo e com a minha irmã. Não os recrimino. Com o tempo, se é que alguma vez possuímos esse dom, perdemos o hábito da conversa. Principalmente o meu pai.
Gostava de os ver mais. Gostava de conversar com eles. Estarmos sentados, sem preocupações e com gosto por partilhar um momento presente. Quem sabe a lembrar o nosso passado, para que não morra em nós e sobreviva nos meus filhos, nos seus netos.
Gostava de me sentar mais vezes ao sol com o meu pai. Com a minha mãe também. Porém, talvez por ainda sentir o embalo do líquido amniótico, nunca desejei tanto a sua companhia como a do meu pai. Penso que é normal. O cordão umbilical da maternidade liga-nos sem grande necessidade de razão. O espaço paterno é diferente. Ou se conquista ou é território de ninguém.
Escrevo esta nota com o sol a brilhar na janela e com o meu filho mais novo a brincar no chão da sala. Sairemos daqui a pouco para ir buscar o seu irmão ao basquetebol. Todos os dias tento que o território da sua infância contenha vida e beleza. Não sei se serei capaz e digno de ocupar este espaço. Como homem, habituei-me à solidão e a vencer o medo de ter de ser um exemplo. Vou conseguindo porque nasci teimoso, mas isso não evita o cansaço, não evita uma sensação de orfandade que me recrimino de sentir.
Lá fora há sol. Ao sol a alma fica iluminada e as ausências deixam de ser notadas. Filho, vamos sair de casa...
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