Há coisas do caraças, como a sorte, por exemplo. Não é que seja um grande crente, mas a realidade é que há gente bastante mais bafejada por ela do que outros.
No meu caso, vou-me contentando com a sorte que tenho e até nem sou muito ambicioso, para além de umas quantas coisas muito cá de dentro. Mas não posso deixar de recordar a expressão que tanto ouvi da boca do meu pai e que resume ser afortunado: «ter o cu virado para a lua». Lembro-me dela por causa de um conhecido autor que vai seguindo e somando graças à generosidade da gente e ao seu dom para o marketing pessoal. Infelizmente, a sua obra só vai somando títulos e perdendo a qualidade que me levava a lê-lo com prazer. O talento está lá. Vê-se nuns quantos parágrafos de quem sabe escrever bem, porém, o tempo para conciliar a sua vida e a arte nota-se no resto dos textos, cada vez mais colados a viagens, efemérides ou a outros nomes reconhecidos. Cada vez mais distantes daquilo que vou considerando literatura.
O certo é que a sorte o acompanha e eu sou testemunha disso, ao ser uma espécie de elo numa cadeia de conhecimento. Sei que tem em mãos um projeto que economicamente lhe permite uma liberdade para criar sem grandes preocupações. Espero ver o seu «cu virado para a lua» abençoado com o tempo que este contrato lhe pode comprar.
Eu, que não sei criar nada mais do que a vida me dá, gostava de ter o meu cu menos bronzeado, mas não me queixo. Há cus bem piores, bastante maltratados e sem sequer se poderem sentar.
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