À parte de umas notas e de trabalho, pouco tenho escrito. Não tenho vontade, nem tenho sentido necessidade. Porém, tenho recordações frequentes, nada nostálgicas, diga-se de passagem, de gente que já não está (ou está demasiado longe) e de como eles viveriam esta situação inexperimentada, como dizia Emilio Lledó.
Tento manter a rotina e a segunda-feira amanhece «lunes» para mim. Não piso Portugal há quase um mês e está aqui ao lado, apesar de não o conseguir ver desde a minha janela.
Amanhece este país, ao lado do país onde nasci, como nunca o vi, com medo, apreensivo e sem contacto físico. Amanhece à espera de números, essa vala comum de dígitos que incineramos no vazio destes meios em que nos comunicamos.
Se desde sempre abracei, em Espanha, aprendi que o abraço sincero é estima a aproximar-te do coração.
Os meus dormem a meu lado. Estão calmos. Vou levantar-me sem mais ruído do que os dos pássaros já a chilrearem nas árvores e a cagarem os carros que pouco se têm usado nos últimos tempos.
Tenho a certeza que vivemos num mundo enganado, que deveria de ser diferente, que deveria de ouvir melhor e observar tudo o que o rodeia. Tenho a certeza de termos as prioridades equivocadas.
Amanheceu o medo. Mas eu levanto-me e abro a persiana.
Ele sempre ali esteve e há anos que o vejo e o contemplo, mais ou menos desperto. Nas últimas semanas, fartou-se de não ser levado a sério e deu a cara, lembrando muita gente que, como todos os sentimentos, o medo é digno de respeito e ali estará ao lado da euforia, do prazer, da ebriedade que estávamos mergulhados para não questionarmos o quão inconvenientes nos tornámos para nós próprios.
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