sexta-feira, março 13, 2020

Sexta-feira 13

O dia acordou cinzento e mais silencioso do que o normal. As notícias infectaram primeiro do que o COVID-19. Não sei se estaremos mais despertos para esta pandemia ou se continuamos a pensar que não chegará a uma cidade onde nem sequer chega, como deve de ser, o comboio.
No meu trabalho o riso já não esconde incertezas. Há mais distância corporal entre nós. Hoje nem cumprimentei com dois beijos uma antiga aluna que nos veio visitar. Aceitamos a distância para evitar males maiores. 
Não sei o que pensar. Pela minha família levo isto a sério, mas não deixo de me sentir manipulado, de sentir que há bastantes mais mutações de interesses por trás deste vírus.
Aflige-me a fronteira, o seu fecho, a loucura à procura de víveres num supermercado e nós com uma linha administrativa no meio a poder, de um momento para o outro tornar-se um muro intransponível, a separar-nos do campo, da terra.
Os governos de Espanha e Portugal já decretaram o Estado de Alarme. Compareceram à frente das câmaras para evitar dar a cara na multidão que esgota os produtos das estantes.
Nunca pensei escrever uma entrada deste tipo, entre o surreal e o hollywoodesco, em que nos encerramos no nosso apartamento em quarentena. Foram decretados quinze dias a partir de dia 16. Como serão para além de amedrontados e intoxicados pela mediatização? Espero que sejamos apenas infectados pelo tédio e que consigamos descansar dum mundo que cada vez mais nos diz que não é só nosso...

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