Se não fosse pelo meu filho mais velho, a personagem de Willie Wonka, criada por Roald Dahl, passar-me-ia ao lado. Saberia da sua existência, teria uma ideia preconcebida da sua fábrica de chocolate, mas não seria agraciado com o «Golden Ticket» que partilhei com o meu filho, tal qual como Charlie partilhou com o seu avô.
A vida oferece-nos tantos sabores, mas só o verdadeiro chocolate nos liberta as endorfinas do prazer e do bem-estar, semelhante ao que sente um ser apaixonado. Sempre gostei de chocolate, apesar de ser pouco guloso e dado a doces, mas só na idade adulta conquistei esse prazer. Ensinaram-me que há que saborear o derreter lento entre a língua e o palato. Penso que todo lado hedonista necessita duma conquista, seja através dos sentidos, seja através do entendimento, da consciência.
Numa tarde chuvosa, agradável à terra necessitada de água, fizemos programa de sofá. O alemão glutão, a recordista competitiva, a queque mimada e o arrogante, de conhecimento pseudocientífico e televisivo, estiveram a fazer companhia ao pobre Charlie que, afinal de contas, não sofre de pobreza de afectos, pois tem o mais doce de todos os chocolates, uma família unida.
Somos poucos cá em casa. Fora dela também não há muitos com quem se possa contar como família. Há os que têm que haver e são suficientes. Mas a mensagem do chocolate desta fábrica Wonka é simples. Cada qual tem os tesouros que tem. O do Charlie e o meu é o mesmo. A nossa pequena família.
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