Encontrar o equilíbrio, dar balanço e coordenar as pedaladas é fundamental para se aprender a andar de bicicleta. O meu filho mais velho já deixou as rodinhas há um par de meses mas ainda tem de praticar esta arte de andar pela vida, equilibrado em duas rodas locomovidas pela sua força muscular.
Saímos de casa ao final da tarde para aproveitar um pouco do sol de inverno, atrevido no meio destes últimos dias cinzentos, cada um no seu fiel corcel a pedais. O seu irmão comigo, na cadeirinha sentado, observava atentamente como o referente mais velho aprende com a experiência. Tem informação privilegiada e tudo o que o seu irmão mais desejava com esta idade. Um irmão.
Voltámos para casa com a felicidade do tempo juntos e com a sorte de podermos merendar todos juntos. Lembrei-me de quem não pode e quer viver tempo de qualidade com os seus filhos, quando não há saúde e quando não há pão. Nessas circunstâncias por mais que se dê balanço, coordenem as pedaladas, o equilíbrio parece escapar-se por debaixo das rodas.
Não gosto de pensar demasiado na posteridade, sinto-me desmedido em ambição quando a penso, porém, neste caso, e a pensar neles, dentro de mim tenho esse desejo. O desejo de que algo simples lhes fique no íntimo e que valorizem a merenda que lhes reconforta o estômago.
2 comentários:
Comentava um amigo (a quem vou mandar uma mensagem a seguir para saber como passou um dia que me pareceu ontem ir ser difícil), já avô, há tempo, que não me queixasse de tanto andar com eles de um sítio para o outro e a ver jogos de bola e disto e daquilo. "Vais ter saudades" E tenho. Já. Hoje tive. Não voltaria atrás pelo muito que gosto de os ver diferentes em cada dia, mas gosto de poder voltar a esses cantos, à memória. Será, às tantas, uma maneira de se lhes dar escala, de os fazermos maiores, de nos distanciarmos para os vermos mesmo diferentes todos os dias. De outra forma não o perceberíamos. Enfim, já me desviei demasiado, ou não tanto assim. E ficará sempre gravada a merenda, o conforto, a mão que dá e os olhares que se cruzam. "Fico enternecido pela forma como os teus filhos olham para ti", disseram-me também há dois anos numa festa de ano novo, na qual dançava (ou lá o que era aquilo) como um... E não tinha reparado. Passei a reparar mais vezes. Se calhar a posteridade também começa por tudo isso. Ou não.... abraço
Acho que sim amigo P. a posteridade começa por tudo isso. Ou não... Ainda não tenho a experiência suficiente para sentir essas «saudades» a que te referes. Ultimamente sinto o peso do exemplo demasiado. Évora não é longe, mas é. Faz-me falta a estrutura com que cresci. Gostava de lhes dar uma semelhante. Não vivem a mesma época que eu vivi (ainda bem), vou-me desenrascando como posso. Se houver essa posteridade, lá estarei a dar a cara para ser julgado... Forte abraço amigo.
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