sábado, agosto 12, 2017

Foz do Arelho, 12/VIII/2017

Dia especial. Chego à Foz do Arelho uma hora antes de dia onze terminar, com várias horas de viagem, uma carrinha a arder na autoestrada e pizza e cafezinho num supermercado da capital do gótico português.

Venho à Foz graças à amizade e estima do mestre Jorge. Aqui tenho escrito muitas notas e lido muitíssimo mais, neste local onde, durante uma semana, somos unicamente família e Atlântico. 

Deitado debaixo do enorme mapa mundo pendurado na sala, não sou capaz de deixar de sentir a sua ausência em cada livro da sua biblioteca e  em cada objecto deste seu refúgio que, ironicamente, o tem sido mais para mim que para ele. Dá-me pena não estarmos aqui fisicamente juntos, as nossas famílias juntas.

Há uns anos, onde agora escrevo, disse-me com toda a sua experiência de trotamundos e ainda com muito para viver.

- Sabes, o português emigrante tem muito aquela ideia de voltar à pátria para morrer...

Não sei o porquê de me lembrar desta conversa. Escrever entradas de diário é escrever ao sabor do pensamento e, escusado será dizer, a minha cabeça está cheia de correntes de ar...

Portugal é a nossa pátria, terra dos nossos pais, e ambos já a passámos aos nossos filhos, assim como espécie de herança forçada pelas nossas circunstâncias. O nosso voltar à pátria não é ascendente, apesar de toda a lealdade ao nosso passado, é descendente, tal qual como os corpos descem sete palmos abaixo de qualquer terra lavrada de pedras.

A quilómetros de distância do meu amigo, do mestre Jorge, celebro a sua vida, a nossa amizade, tal como a vida de outro grande, como ele, o transmontano, mas com título à alentejana, o mestre Miguel Torga. 

Há uma enorme ironia neste dia que trouxe à vida estes dois seres humanos cuja humanidade  e excepcionalidade não se limitou à fronteira mais antiga da Europa. Ainda nos tempos da universidade, foi o Jorge Rosmaninho Neto quem me ofereceu o primeiro livro do Torga, «Câmara Ardente», edição do autor, capa branca e com as folhas coladas para que o leitor, como eu, vá lendo à navalhinha. 

O nosso futuro é tal e qual como os seus livros, os publicados em vida, edição de autor, capa branca e com folhas que, para serem escritas, têm de se desbravar à lâmina...

Muitos parabéns querido amigo.

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