Fui a Ciudad Real e, já que ali estava, porque não cumprimentar Cervantes na sua La Mancha? Tinha lido na Internet que havia um museu dedicado ao meu tão estimado "cavaleiro da triste figura" e, caso tivesse disponibilidade, fiquei com vontade de dar por lá um salto. Assim o fiz.
Acompanhado da família, entrei no "Museo del Quijote" e fui recebido pelo próprio Miguel de Cervantes, em versão holograma, bem à maneira de Obi-Wan Kenobi, a convidar-nos para conhecer este espaço dedicado à sua imortal personagem, ou melhor, imortais. Sancho Pança, recordam-mo as minhas crianças, bem merece estatuto de igual "fidalguia".
Por ser época de Carnaval, o espaço, com excepção dos funcionários da recepção e da empregada de limpeza, estava deserto. A biblioteca também estava fechada, mas o meu tempo também escasseava e os nossos filhos queriam brincar e não estar a ver excertos duma obra que acabámos por trazer para casa, em adaptação infantil. Achámos ser uma excelente recordação de Ciudad Real e destes dois dias por ali passados graças à profissão da minha mulher.
No museu pudemos encontrar uma exposição interessantíssima, "Miguel de Cervantes o el deseo de vivir", da autoria de José Manuel Navia, fotógrafo lusófilo, que segue as pisadas de Cervantes plasmando visualmente os lugares e caminhos por onde o autor passou ao longo da sua vida, uma vida atribulada e incerta como nos revela a sua obra.
Apesar do pouco tempo dedicado à visita do museu, tive a sorte de ver o fotógrafo, num pequeno documentário sobre a exposição, falar sobre a passagem de Cervantes por Lisboa e o seu conhecimento sobre a obra de Luís de Camões. Resumo o excerto a reconhecimento literário e a analogia biográfica, valha isso o que valha. Fiquei feliz por, em território cervantino, encontrar-me com o velho amigo Camões. Em Ciudad Real, foi-me recordada a morte e os restos do poeta que me mostrou uma direcção para o Parnaso, a qual gentilmente recusei, pois sou pouco dado a musas. No entanto, se alguma vez lá tivesse que subir, seguramente, seria o príncipe dos poetas quem levaria como soberano.
Fica anotada a casualidade deste encontro. O aperto de mão, o encosto de ombro e a palmada nas costas.
Camões navegou-me no passado. Cervantes deambula-me por este presente, levando-me desta cidade real, fundada por Afonso X, o Sábio, até à capital da minha nacionalidade, ao Campo de Santana, aos paralelos por onde, debaixo dos mesmos, se perdem os restos do poeta homónimo ao meu primeiro nome.
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