Estive a assistir à projecção dum filme interessantíssimo na presença da sua realizadora e da sua argumentista. Falou-se no feminino sem se falar de género. Mesmo na predominância do estrogénio, a testosterona não foi relegada para a típica brutidade masculina e senti-me bem como homem biológico que sou, indiferente a géneros, mas profundamente, e tendencialmente, respeitoso com outrem.
Contudo, falou-se, e bem, de palavra, de poesia e de poeta no feminino. Aprendi, lá na terra da Florbela, na sua campa, a dizer poetisa. Aprendi assim, também de versejadoras de quadras, o feminino do poeta. Pensava que era correcta a formação irregular, mas, ao mesmo tempo, singular (não confundir com número), deste feminino. Hoje em dia a igualdade de género chegou à poesia e poeta tanto é a Sophia como o Miguel, a Florbela como o Fernando, a Filipa como o Luís. Não me aperceber desta igualdade lexical relegou-me para a baixa cultura com que me criei, pouco polida mas igualitária entre analfabetos e analfabetas.
Convencionou-se haverem só poetas. Eu continuo a admirar quem também se assume poetisa, com convicção de género e imune à convenção. Se algum dia tiver que assumir alguma coisa, vou assumir-me no feminino. Não é preciso saber muito de palavras para saber que as mais belas são feminino, é a minha forma de reivindicar os seus direitos de igualdade de género.
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