Tive de socorrer o meu filho mais velho numa missão feita TPC. Tivemos uma semana para a cumprir mas só hoje consegui deslocar-me com ele ao local destinado pelo professor. Os seis anos que tem exigem o nosso auxílio, apesar de tentarmos que faça tudo o que conseguir com a maior autonomia (e brio) possível.
Lá fomos nós. Carro malparado, quatro piscas, a correr com a máquina fotográfica na mão. Ele com o símbolo da mascote da sua biblioteca escolar. Eu a tentar o melhor, e rápido, ângulo para não me multarem. Desenrascámo-nos assim. Voltámos ao carro, agarrei no telemóvel com o qual estou a escrever este diário, e confirmei os nomes dos três poetas da escultura. A distância, o trânsito e a infração, atenuada pelos quatro piscas, não me haviam permitido apontar os nomes.
"Jesús Delgado Valhondo, Manuel Pacheco y Luis Álvarez Lencero" são os poetas da sua cidade, da sua infância (como ontem o Vicente Aleixandre que ouviu para adormecer). Eu não tive poetas na infância. Tive o privilégio de os ter, bem vivos, na adolescência. Fico feliz por o acompanhar e faço questão de verbalizá-lo e, agora, grafá-lo.
A estátua, apoiada numa base de três livros, ali está numa rotunda às voltas com a vida da cidade. E nós à volta com a nossa. Nunca imaginaria isto, nem nos mais paternalistas sonhos que nunca tive. Ter filhos e descobrir com eles uma poesia tão diferente da minha, de verso e rima condicionada pela alma dum país que não é o deles de nascimento. Um Parnaso português de mão dada com um infantil discípulo de Cervantes. Haverá melhor união ibérica que esta?
quinta-feira, março 09, 2017
Três cabeças, três poetas. Um filho, um pai.
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