Portugal e o seu dia, Portugal e o seu poeta, Portugal e as suas comunidades. Portugal aqui ao lado, Portugal país onde nasci, Portugal na língua que escrevo, Portugal irmão de quem me adoptou. Sentir Portugal não é difícil, até mesmo para quem não é português, mas o meu Portugal está num quintal duma tarde de Junho, de calor refrescado por uma mini Sagres, em que me sento, com quem me criei, a ver os nossos filhos a brincarem sem dia de Portugal, nem preocupações de país que não seja o da sua infância.
A minha infância não está longe do bairro de Almeirim onde queríamos ir a pé comprar caracóis. Estava fechado. O César, feliz, como nos deixa feliz vê-lo, foi ao «Rei dos Caracóis», à minha Senhora da Saúde, de propósito para palitarmos este final de tarde na casa do nosso «piquinino» Gonçalo de sempre. O passeio pelo bairro levou-nos aos despojos de alguém espalhados pela rua. Restos de electrodomésticos, uma grelha de churrasco reaproveitada pelo Cajó, de cadernos e vários livros por mim recolhidos do ostracismo literário que jazia no chão. Vários títulos de leitura obrigatória, forçada pelo sistema educativo, do qual um título é igual ao meu dia, «A Relíquia». A minha relíquia não é a obra de Eça de Queirós por mim resgatada, é o facto de há mais de 20 anos o nosso passado continuar saudável e com os nossos filhos a darem à nossa juventude uma perspectiva de futuro.
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