quinta-feira, junho 15, 2017

Chamaram-me cigano e maltês...

Por acaso nunca me chamaram cigano e maltês, mas houve uns quantos adultos nos meus tempos moços que me apelidaram de má companhia a uns pais duns amigos meus pelo simples facto de já tentar pensar pela minha própria cabeça. Na época sofri a fama e senti um certo ostracismo e, como qualquer adolescente a querer afirmar a sua personalidade perante o mundo, passei um mau bocado, principalmente porque vivi estes momentos no seio duma comunidade católica que predicava de forma muito peculiar a doutrina do JC. Neste caso, a falta de cultura, de bom-senso, até mesmo alguma inveja pessoal (triste sentimento de difícil entendimento hoje, imagine-se então), estavam na base desta visão deturpada da minha jovem pessoa por parte desses adultos, cujas vidas dos filhos preenchiam os vazios pessoais das mesmas.
O tempo encarrega-se de pôr tudo no sítio e esta má companhia continua a tentar pensar pela sua própria cabeça, ciente que deve estimular o mesmo na cabeça dos seus filhos e fazer o mesmo como profissional da educação. Valeu a pena ter sofrido essas falsas acusações, deram-me a resistência em forma de iniciativa e quem valia a pena conservar como adulto não foi em conversas de outros ditos adultos que necessitam denegrir adolescentes para sobressair virtudes que nem eles nem os seus descendentes têm.
A minha mãe não soube ver os sinais do que se passava então. Obrigou-me a frequentar locais, cerimónias e instituições que, graças à sua distracção, passei a odiar mas com as quais, rapidamente, fiz as pazes. Infelizmente, o meu pai pouco voto teve na matéria e não se opôs à sentença materna. Só não me converti num rebelde sem causa, a pinta de James Dean até já tinha estado na moda com o Beverly Hills 90210, porque os alicerces de leal eram fortes e tinha vida para além da paróquia de Nossa Senhora da Saúde.
Não tinha nenhuma intenção de relembrar esta vivência, não é nenhum trauma, mas ao ensinar hoje os versos da canção «Chamaram-me cigano» do Zeca aos meus filhos, lembrei-me que outrora fora má companhia, um maltês. Talvez ainda o seja como adulto e não seja boa rês para uns quantos Dons Fulanos Marqueses. Ao contrário de há decadas, não passo nenhum mau bocado com isso, pois «limpei a viseira, agarrei no arpão, mas tive o diabo na mão».

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