Estava cansado. Há dias que durmo a correr, depressa. Acordo cansado e o primeiro pensamento é quando poderei dormir outra vez. Se encontro uma resposta mental distante do final do dia, há uma sensação de consolo. Pouca vezes acontece e entro no remédio da rotina.
Estava cansado. Mas não dormi à pressa. Dormi descansado até que o sono, pesado de tantos dias acumulados, começou a sonhar angústias de pai ainda filho e neto.
Despedidas. Ritmo cardíaco acelerado. Perguntas sem resposta. Saudades que não deveriam existir. A vida real projectada num inconsciente dum homem que não consegue deixar de querer ter fé nos olhos herdados da infância.
«Saudades de mim» é um livro tardio de António Ferro. O polémico homem da política do espírito do Estado Novo não é um poeta de referência para mim, ao contrário da sua personalidade fascinante, e aqui o tenho na mão, lido, estudado. Debruço-me sobre o título e acabo por reconhecer neste saudosismo algo de mim também.
Amanhã comerei as minhas palavras. Esquecerei noites de subconsciente incontrolável, angústias das minhas circunstâncias de homem de fronteira e negarei a saudade com medo da sua existência. Uma coisa só existe se a aceitarmos.
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