De manhã, fomos até à feira anual dedicada à caça e à pesca aqui na região raiana. Foi a terceira, ou quarta, vez que fui, mas hoje fui acompanhado pelos meus filhos.
A actividade cinegética é fundamental para a sobrevivência do interior e, direi mesmo, do ser humano, como ferramenta gravada no adn desde a época da recolecção, pouco depois de nos termos posto de pé nas patas traseiras. Porém, não é sobre esta problemática, tão dada a posições extremadas e polémicas, que esta entrada vai recolher o que foi parte do meu dia. Sei de onde venho e não me esqueço que ainda há tempos, antes da agricultura e dos animais domésticos, não nos governávamos a raízes e plantinhas sazonais.
A feira estava à pinha e havia várias formas de se interagir com os produtos dos expositores. Podias experimentar roupa outdoor para estas actividades, folhear catálogos, ver armas brancas feitas por arte de ferreiro, observar por monóculos, binóculos ou miras telescópicas, esticar canas de pesca, comprar engodos, etc. Foram várias as vezes que me lembrei do meu avô João. Foram várias as vezes que dele falei aos meus filhos, principalmente do silêncio, da solidão e do esforço do caçador honesto e respeitoso com o entorno, com o que obterá da natureza para se alimentar, proteger ou equilibrar, nunca para pendurar na parede e ostentar.
Num desses vários expositores estava a federação de tiro com arco regional, sempre bem-intencionada e disponível para iniciar miúdos e graúdos na arte do arco e da flecha. O meu filho mais velho quis participar e, o seu irmão e eu, ficámos fora da fila a observar os lançamentos e a pontaria do pessoal. Lá chegou a vez dele disparar e, para um puto de seis anos, saiu-se muito bem, não fosse a simpática ajuda dum senhor voluntário da federação de tiro com arco.
Relembrei-o.
- O que é que se diz?
- Gracias.
Timidamente, como é costume, agradeceu por imperativo paternal.
Demos mais uma voltinha, fomos buscar material escolar que ainda faltava e, já em casa, as flechas lançadas pela fila de crianças que assisti deram no alvo da minha atenção. Se muito me engano, os sete ou oito putos que iam à frente do meu filho não tiveram o mais mínimo gesto de gratidão para quem os estava a ensinar a manejar o arco.
(Dir-me-ão alguns, com a sua razão, agradecer o ensino de manejo de uma arma?)
Sou um fascista da gratidão. Desprezo os que não se sentem obrigados a retribuir amabilidade. Deveriam ser torturados com boas maneiras, com um carrasco educado que, antes de lhe decapitar direitos, lhe pede com "se faz favor". Espero que os meus filhos me odeiem por os ter obrigado a sentirem-se obrigados, a agradecerem a atenção recebida. Como qualquer regime imposto, não espero que me agradeçam, espero que não esqueçam o passado e aprendam com ele.
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