sábado, setembro 30, 2017

«Dedicado ao galante povo do Afganistão»

«Dedicado ao galante povo do Afganistão», é assim que termina um dos clássicos musculados do cinema da era Reagan. Trata-se da terceira entrega de «Rambo» e, há bocado, passou pela milionésima vez nos ecrãs da TV. Já em velocidade cruzeiro, em termos de estupidificação graças ao cansaço da semana, aterrei no puff da sala e vi como o Stallone matava russos com outra invenção russa, ainda mais famosa que a personagem que interpretava, a AK-47. Apesar de todas as características que remetem este filme para a galeria de acção pouco verosímil sincronizada com qualidade tão duvidosa como a propaganda de então, lembrei-me que foi, graças a este filme americano, como aprendi o que era um «Mujahedin». Também me lembro, anos mais tarde, passados os febris anos 80, caídos muros de Berlim e exonerados comunismos soviéticos, liberalizados interesses e lucros pornográfico-petrolíferos por esse mundo fora, ver como o povo afgão deixava de ver a América dedicar-lhe filmes de grande orçamento e equipamento militar. Os rebeldes do filme do Rambo, companheiros combatentes pela liberdade contra o agressor russo, deixam a amizade estimulada pela CIA, zangam-se com o «Uncle Sam» e optam por espalhar o terror. 
O mundo não é tão simples como escassos diálogos em toda a série de filmes do Rambo, por isso é que de galante se passa tão depressa a gandulo, de amigo a terrorista. Mas a maior parte de nós não está nem aí, está como eu, em velocidade cruzeiro, refastelado no desinteresse dum puff. A história do Médio Oriente tem sido assim interpretada, desde a comodidade dum sofá ocidental...


P.S. Foto do relógio de Rambo, quando decidiu ser hora de se tornar o pior pesadelo duns quantos Russos!

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