Eu cá não sou
faccioso, mas, aqui do outro lado do Guadiana, escrevo (como se estivesse no
notário) que toda a malta de Almendralejo são boa gente, tal como todos os
adeptos do Atlético de Madrid! É aquilo que sinto, logo nunca será ciência, é
consciência, cada um tem a sua e a minha não se importa de generalizar, graças a
anos de vivências de todo o tipo, felizmente a maioria bastante prazenteiras e
engraçadas.
O caso de
Almendralejo nada tem a ver com a sua toponímia de terra de amendoeiras, devo a
generalização a muitos colegas e amigos a quem atribuo qualidades da árvore que
lhe deu nome: rusticidade, resistência à dureza do solo e sabor autêntico. Este
pessoal, por vezes visto como abrutalhado, é duma autenticidade, duma
genuinidade, que só encontra paralelo nos meus amigos de coração “colchonero”.
Para quem não sabe, este é o nome que se dá aos adeptos do Atlético de Madrid,
pois o seu equipamento listado vermelho e branco tem o mesmo padrão dos antigos
colchões, muitos deles bastante humildes e com enchimento de palha.
Assumo a minha
simpatia merengue graças ao CR7 e às suas “micoses/psicoses” a fazerem comichão
ao ser português sem medo de existir, no entanto foi o Atlético de Madrid a
primeira equipa espanhola à qual dediquei atenção e carinho de criança. Tudo
graças a outro português que bem podia ser almendralejense pela sua
originalidade. Um português com um corte de cabelo confeccionado no Montijo (o
do Barreiro e não o de Badajoz), montado num Porsche amarelo, que, passadas
duas semanas de viver em Madrid, já tinha sotaque espanhol. Qualquer amante do
desporto-rei sabe que me refiro a Paulo Futre, cuja genialidade indisciplinada
o impediu de entrar no panteão das bolas de ouro, mas cuja personalidade já faz
parte da história do futebol (e do humor português).
O Atlético de Madrid
era o seu clube e eu, que nunca soube nem gostei de jogar futebol, via os meus
amigos do bairro a imitarem as fintas (e o corte de cabelo) enquanto jogavam
nas balizas improvisadas de madeira (subtraída duma qualquer obra das
imediações) ao som do próprio relato de viva voz: “lá vai Futre, a driblar
endiabrado, e é um, são dois, três, quatro e GOLO!!!”. Fui um puto feliz, mesmo
sem saber jogar à bola, nem ter tacto para ir à baliza. Essa época marcou-me os
gostos de adulto e quando vejo o “Atleti" jogar, a garra do Cholo, os seus
jogadores a suarem a camisola “colchonera” (com um finado ex-presidente, Jesús
Gil y Gil, que bem podia ser uma personagem do “Prison Break”, a falar ao
telemóvel desde a comodidade da prisão), não sou capaz de escapar ao ambiente
de clube de bairro, genuíno, para o qual esta equipa de Madrid me remete.
Também recordo Futre
a jogar nos três grandes de Portugal. Formado no Sporting, brilhou no Porto e
pouco jogou no meu Benfica, onde as lesões só lhe trouxeram uma Taça.
Certifiquei-me disso, há anos, numa larga espera, num qualquer posto de
correios do Alentejo, onde tive à mão a sua biografia, “El Português”, lida
entre nostalgia e gargalhadas.
Paulo Futre continua
muito ligado ao “Atleti", escreve no desportivo “Marca” e é um embaixador
do futebol luso em Espanha. Porém, não entendo porque motivo em Espanha não se
fala mais sobre a 1ª Liga portuguesa. Não interessa, a não ser pontualmente.
Impera a “Premier”, o “Calcio”, a “Bundesliga”, até a “Ligue 1”!
O mesmo se passa com
a política portuguesa. Os media de referência não fazem a cobertura de
entendimentos históricos entre partidos que permitem a formação dum governo.
Incêndios, cataclismos ou a Eurovisão põem Portugal num meio de comunicação de
Espanha, mas uma “geringonça” é um conceito difícil de traduzir para uma língua
que, historicamente, custa pôr-se de acordo. Castelhano ou espanhol?
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