Hoje de manhã não se lembrava de nada. Ainda bem. Mas, ontem
à noite, teve de vir para a nossa cama para voltar a adormecer depois do que
nos pareceu um pesadelo. Ficou entre mim e a sua mãe e, abraçado pelos dois,
disse-lhe que era só um sonho mau, um engano nos seus pensamentos e que, quando
voltasse a adormecer, só ia ter sonhos bons, com coisas bonitas e agradáveis. Pouco depois, roncava na almofada e voltou nos
braços da sua mãe para as mantas da sua cama, no quarto partilhado com o irmão.
O sono e o sonho tardaram a chegar para mim, como já vem sendo habitual e os meus pensamentos ficaram naquele momento em que um ser humano confiou em mim, nas minhas palavras de placebo, nas minhas petas inocentes que, gratamente, espeto aos meus filhos.
O seu descanso confia em mim,
em nós. Sentem-se protegidos como deveriam de sentir-se todas as crianças. Armamo-nos em divindades adultas para o verdadeiro Deus da criança. É um atrevimento com consequências das quais estou ciente. Não
tarda nada cairei do altar, dar-se-ão conta da humanidade e finitude do seu pai. Serei eu quem necessitará dos seus braços, da sua palmada nas costas.
Verão como o protector nunca foi mais que o protegido, que nenhum homem se pode
confundir com Deus e que, se Deus existe, ele saberá isso. Entretanto, vou mentindo, vou tentar meter-lhes armas nos pesadelos para que se defendam dos monstros, esses que também nos meus sonhos me vêm ver.
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