segunda-feira, outubro 16, 2017

Burinhosa

Não esperava publicá-lo hoje, mas as circunstâncias de ontem assim o ditaram. Está previsto conhecer papel no meu próximo projecto “pedal(e)ar”, no entanto aqui o dedico à capital das bicicletas clássicas e de todas as "pasteleiras" de Portugal, a nobre Burinhosa, que ontem conheceu o inferno. 
Com estima, à Burinhosa, a S. Pedro de Moel, ao Pinhal de Leiria. Com estima, à família Rodrigues.  

Burinhosa

(com estima, à família Rodrigues)

Há um local onde o património do homem são duas rodas.
Onde a utopia duma freguesia
resgatou das ruínas ou do palheiro deste país
a crónica de gerações a pedalar.

Invadida por inglesas, francesas, portuguesas
restauradas, remendadas ou todas enferrujadas,
são oleadas para, num dia especial de Julho,
sentirem a veloz brisa anti-inflamatória do Atlântico
na sua biografia de selim, guiador e travões de alavanca.

Ali o sangue velho dos avós
é estimado e agradecido,
correndo orgulhoso nas veias dos netos.
Há resineiros, há varinas, há amoladores,
pedaleiras vestidas a rigor
graças a uma terra trazida
ao peito duma família.

Na Burinhosa,
no coração de Portugal,
onde do chão se erguem santuários,
se desenham beira-mares,
se cantam flores do verde pino,
se vislumbra da serra as planícies cúmplices,
exala-se o fluido evocador
das histórias
das nossas
bicicletas.



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