Está um frio de rachar e o meu corpo range como madeira seca, sem humidade, gelada. Fechou-se a capela mortuária à chave. O corpo do meu avô ficou lá dentro. A chave na algibeira do meu pai. Vamos descansar umas horas debaixo das mantas deste Dezembro. Corpos debaixo de cobertores vivos. O meu avô morto dentro dum caixão. Frio. Eu, coberto de mantas, com o espírito em posição fetal, não consigo aquecer. Eu, longe do balançar do líquido amniótico, não adormeço. As extremidades do meu íntimo estão geladas e a noite não lhe perdoa a amputação. Porque é que não morremos com os joelhos colados ao peito, como no ventre materno? Seria mais parecido ao nascer para uma outra vida. Só sei que estou gelado.
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