Lavrámos, plantámos, pedalámos, caíram primeiros dentes, contemplámos atardeceres, abraçámos e abraçámo-nos. Vimos como a nossa vida é esse filme foleiro, de Domingo à tarde, em que tanto estamos felizes no ecrã como estamos, de lágrima ao canto do olho, na plateia. Ganhámos dias e perdemos dias. Perdemos mais dentes, de leite, felizmente. Fizemos amigos e despedimo-nos de amigos. Despedimo-nos de família.
2017 foi mais um ano, por mais voltas que lhe queiramos dar, não foi nada mais que 365 dias. A nossa percepção é que foi particular, talvez um pouco bipolar, a oscilar entre a alegria e a tristeza. As coisas são como as sentimos.
Para mim, agora a escrever, possivelmente, a última nota do ano, faz-me lembrar o estendal da roupa em frente ao pátio dos meus avós. Um ano com muita roupa estendida. Houve sol a secá-la num instante e vendavais que nos fizeram ir apanhar peúgas para além da linha de caminho de ferro. A corda, apesar de esticada e a denunciar a tensão resequida, lá aguentou as peças que se foram estendendo e apanhando. Manteve-se fiel às suas funções de fio conductor.
Amanhã começa 2018. Aproveito as últimas horas deste ano para dobrar e arrumar a roupa. Meias e cuecas na gaveta. Camisas e casacos no armário. Sweats e camisolas de algodão dobradas na divisão para o efeito. A corda já foi inspecionada. Está dentro do prazo de validade e cumpre com as normas de segurança da UE. No entanto, exige uma vigilância constante. Em épocas de alterações climáticas, não nos podemos dar ao luxo de perder a corda que nos amarra ao outro, que nos amarra ao ser humano...
Venha daí 2018. Pode parecer que estamos pendurados, mas o que nos interessa é a corda que nos une.
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