Se fosse religioso, estaria em falta com a minha religião. Deveria de confessar humildemente o tempo longe do templo de devoção, quando comparado com tempo dedicado à oração em forma de lista de compras.
Os supermercados, os centros comerciais, escrevo-o sem nenhum moralismo ou atitude de superioridade intelectual, são os templos que o século XX ergueu para exercermos a nossa devoção monoteísta ao deus dinheiro que aceita o culto de todos os credos, até ao clube dos agnósticos e faz descontos aos usuários do cartão de ateu.
Eu sou um deles. De carrinho cheio de intenções de consoada e umas quantas coisas que não me servem para nada.
Escrevo esta nota com a mala do carro cheia de compras, chateado porque tenho o elevador do prédio estragado, e a pensar que o capitalismo se nos revela de tantas formas (há algo de experiência religiosa nisso, se pensarmos bem), neste caso através dos hábitos do dia-a-dia e do urbanismo das nossas cidades.
Cada qual tem o que merece segundo o templo no qual se ajoelha. O meu acto de contrição pesa como o caraças e ainda tenho que o subir mais dois vãos de escadas...
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