O domingo sempre foi um dia odioso. O regresso à escola, a segunda obrigada de rotina no calendário semanal carregam de estranheza o dia em que o senhor descansou da criação do mundo.
Já não tenho este dia tão traumático, desculpem o peso que só quer ser literário do adjectivo, como quando era miúdo mas continuo a não gostar dele...
Só tolero as manhãs lentas, de café e torradas com a família, de disco domingueiro eleito para banda sonora e o velho rádio Phillips, herdado do meu pai, sintonizado com o mundo...
Os meus filhos não se apercebem desta antipatia de final de semana, nem lhes demonstro muito. Não quero que herdem as minhas animosidades, os meus ódios de estimação, a minha infantilidade da qual não me orgulho - aquela que vale a pena esteve num conflito familiar galáctico de bonecos do Darth Vader, Luke Skywalker e Kylo Ren antes da hora da cama -, em fim, não quero que herdem a minha estupidez, já terão a suficiente com a sua.
Gostava que apenas herdassem o velho rádio Phillips e a boa onda que nos transmite. Também era do meu pai, deu-mo quando sai de casa sem saber que iria tocar as manhãs e os fim-de-semana que esteve em casa e não teve de estar fora a trabalhar. Os meus miúdos são dois e não sei como serão a partilharem os escassos bens materiais que por cá deixar ... O rádio Phillips, se ainda existir, que se entendam, mas a onda no ar essa já a estão a partilhar... Sem ódios de estimação, só rotina, da boa, da que cheira a café...
domingo, outubro 02, 2016
A Rádio Phillips salva um domingo qualquer...
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