Há dez anos atrás, quis a ironia do destino que o 5 de outubro, e a minha condição republicana, me ficasse marcado com uma bela cicatriz no tornozelo direito.
Ficou feio, mais gordo e com menos flexibilidade do que o esquerdo, mas já não me imagino sem esse tom cor-de-rosa cicatrizado com marcas de pontos da cozedura no artelho.
Estava com dois amigos a escalar em Puerto Roque e no horizonte avistávamos Marvão. O Javi e o Michel, amigos distantes fisicamente, mas presentes no meu coração.
Foram meses duros de dor física. Psicologicamente também, inseguro numa nova realidade laboral, numa nova localidade, numa nova sociedade.
Só voltei a escalar mais duas ou três vezes depois de ter partido o tornozelo neste acidente. Nem foi por medo, foi por falta de tempo, meios, companhia e até vontade. Não há trauma pós-trauma ortopédico. Há muito mais consciência de mim, do meu corpo, das minhas limitações, das minhas expectativas e do tempo que passou desde esse dia.
10 anos é uma quantidade interessante de números numa cronologia. Uma década em que o meu corpo conheceu esta e outras limitações mas o espírito parece mais leve...
Não me apeguei a estes 10 anos, aferrei-me a várias pessoas durante estes anos... sin flexibilidad en el tobillo pero muchísimo más flexible de espíritu...
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