O monge e o gato
No mosteiro havia apenas um gato.
Não tinha dono apenas um monge tratador que, para além de tratar da barriga do
felino, cuidava com paciência de encinho o jardim zen.
O gato gostava de apanhar sol num
dos grandes seixos trazidos do ribeiro, ali mesmo no meio do jardim, deixando
um pequeno rasto de patitas atrevidas na fina areia, lavrada, ordenada e simétrica
pelos dentes do encinho do encarregado monacal. Esta presença gatuna não
ajudava à concentração do monge tratador, chateava-o frequentemente, talvez por
não conseguir acariciar a natureza do animal.
Um dia, ao arar a suavidade do
jardim, viu como, pata ante pata, o gato desafiava a sua presença e se sentava
a olhá-lo desde o centro do areal. Pensou para consigo mesmo ao ver-se fitado
por aquele verdejante olhar: “Ainda por cima desafia a minha presença, eu que
sou quem lhe dá de comer!”.
O momento durou o tempo que o
gato quis que durasse. Como se estivesse farto dos pensamentos inúteis do
tratador, pisou outra vez a areia em direção ao indignado monge.
Parou a meio e defecou no jardim sem geometrias floridas.
O monge não soube se teve naquele
instante o seu quê de zen ou se foi posteriormente, quando foi buscar uma pá e
apanhou as provas daquele momento.
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