O sistema radicular duma árvore procura sempre, com mais ou menos intensidade, com mais ou menos profundidade, água. As nossas árvores são como os nossos filhos, isto é, crianças e algumas ainda bebés, precisam do nosso cuidado, da nossa supervisão, mas, tal como eles, também têm de aprender a sobreviver em momentos de seca, de escassez e de negligência por parte de outros com quem se cruzam no caminho.
Estamos no final de maio, porém lá fora estão 38°c sem perspectivas de chuva. O sistema de rega é o reflexo da incompetência de quem o montou e da nossa inexperiente boa-fé. Revolta-nos a mentira, o «é ainda hoje», mas a batalha não é fácil, pois o nosso exército só tem como aliado a paciência consciente num terreno que não nos permite nem ataques, nem manobras invasivas. Há batalhas condenadas desde o princípio ao empate para não serem derrotas. Há que manter a calma, erguer o olhar com coragem até que o campo de batalha seja abandonado. Nunca imaginei que para plantar árvores, para as ver crescer sem outras intenções mais além da sustentabilidade familiar e do nosso entorno natural, tivesse de me socorrer da arte da guerra. Tampouco imaginei voltar atrás no tempo, ter necessidade de fé para ir na procissão da cidade para pedir chuva a Deus ou ao seu secretário S. Pedro.
Tenho medo de falhar aos nossos filhos, tenho medo que as nossas árvores morram de sede num terreno comprado com esforço e cheio de poços secos. Tenho medo de mostrar medo e não a confiança de quem tem aliados. Tenho medo de perder a paz encontrada no trabalho duro do campo e do orgulho da humildade de trabalhador rural dos nossos antepassados...
Se árvores e pessoas sobrevivermos à seca, espera-nos continuarmos de pé...
Amanhã espera-se mais trovoada, mas água nada...
Há quantos anos abandonei a procissão?
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