sábado, maio 27, 2017

Tudo apita...

A semana foi febril e cansativa e acabei por adormecer no sofá da sala hoje à tarde. Este maio já precisa de ventoinha e a/c para se poder estar em casa, mas o céu está carregado de cinzento. Sofro bastante fisicamente com este calor que me alaga o cachaço e, quando estou a trabalhar, me entra como gota a arder pelo canto do olho.
A sesta impôs-se ao meu corpo desabituado de tão revitalizante costume. Os olhos olharam para dentro mas não passaram da fase REM. Rápido apitou o final da máquina de lavar e o termómetro com 38.5°c do meu filho mais velho. O corpo lento cumpre com as rotinas e a mente apercebe-se que tudo nesta vida apita. O despertador, o micro-ondas, as máquinas de lavar, os toques de entrada e de saída, as luzes acesas esquecidas do carro, o relógio desportivo com pulsómetro e gps, o telemóvel, a chaleira, o aviso de falta de bateria e até mesmo os ouvidos quando a sede do corpo desidratado dá sinal, essa apitadela interna a avisar para repor reservas.
A febre do meu filho não baixou. Voltámos à urgência e aí fizeram-lhe a sua primeira análise ao sangue desde que tem consciência. Chorou algo desconcertado com o local e com o termostáto do seu pequeno organismo a indicar o motor em excesso de temperatura. Com as lágrimas a escorrerem lá lhe correu o sangue por umas vias que se mantiveram no braço durante quase uma hora, o tempo necessário a investigar a origem destes dias febris.
Enquanto esperávamos o resultado, sentado no meu colo e com o braço direito esticado em cima do meu, fomos falando de aprender com o que vivemos, manter a calma, de como o seu avô ia comigo tirar sangue em jejum e que depois de encher seringas de plasma tinha os melhores pequenos-almoços com o meu pai, de como foi ter um avô que madrugava para que o neto fosse atendido pela médica de família e até contámos uma história. Gostava de ter tempo para lha escrever e que esta nota diária me de uma apitadela à memória e à criatividade. Ele e o irmão merecem.
Porém, vou apagar os dados do telemóvel e tentar isolar-me de tantas apitadelas. Espera-me o despertador dentro de sete horas e mais trabalho no campo. Tenho esperança que o amanhã seja mais fresco.

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