domingo, maio 14, 2017

Navegar

Ser o timoneiro dum veleiro por momentos, durante um passeio pela costa de Palermo, é o exemplo irónico dum alentejano navegador que, quase em saber nadar, parte em conquista do mar. O exemplo pouco se adapta a mim, pois sei nadar relativamente bem, e não sou navegador como muitos dos meus antepassados que se foram embora, partiram e mantiveram a esperança de correr o mundo inteiro.
Esta foi uma sensação ocasional repleta de emoções. Primeiro a de ser o homem do leme, essa que nasce do fundo do ser, e depois, à volta, quando nos apercebemos que não somos capazes de chegar ao destino, o reflexo da tristeza, a fraternidade de saber do sofrimento do outro e ver, na nossa incapacidade de resgatar os náufragos, o rosto dos nossos seres queridos. Assim foi o meu Mediterrâneo, o entusiasmo inicial afogado num cemitério aquático. A surdez do grito rebenta-me os tímpanos.
Nunca serei timoneiro de nada, com excepção da minha alma. Talvez esteja condenado desde tempos amnióticos. O meu corpo é da terra, a sua força vem das raízes, mas tudo o resto é água. E, como o poeta me disse, é salgada.

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