Conjugar é dos actos mais determinados e, por vezes, mais
difíceis que se podem ter. Conjugar uma coisa com outra, afim ou antagónica,
exige determinação e um querer que tantas vezes nos levam à exaustão ou a uma
realização pessoal mais completa. Quase tudo o que conjuguei até hoje levou-me
mais a campos de realização, mesmo que o caminho tenha sido de exaustão. Corri
por gosto e não me cansei.
Porém, este conjugar começa a ser cada vez mais pragmático
do que estóico. Paro para pensar - ou não, pois quase sempre medito em
movimento - e concluo que a realização pessoal cada vez mais se encontra em ter
tempo, em somar – aí, sim, não me sinto escravo dum verbo - ao tempo qualidade.
Este tipo de soma não acumula materialmente como estamos habituados, mas
adiciona essas coisas, invisíveis aos olhos, que um aviador francês contou a
adultos a quem as circunstâncias haviam subtraído a infância.
Conjugo uma vida de ritmo moderno com uma vida de ritmo
campestre. Pode parecer a conjugação perfeita, e talvez o seja, mas para um
homem de formação epicurista como eu, deformado por a óptica de Spinoza,
confesso não estar a ser fácil para corpo e mente este conjugar.
Há anos atrás, um dos meus mais estimados amigos, o Jorge
Neto, falava-me de sermos “caçadores de experiências”. Ouvia-o com entusiasmo e
o horizonte era outro, vislumbrava fronteiras e vontade de cruzá-las. Estamos a
vários quilómetros, e países, de distância um do outro, cada um “caçou” e “caça” experiências
que conjuga com as nossas parceiras de caçada - o cônjuge, a acção
substantivada na pessoa – mas o nosso tempo já não é esse, o nosso espaço já
não é o quintal da casa dos meus pais e a nossa dimensão humana alberga novos
seres, como os nossos filhos.
Escrever, o que vejo desde esta janela do ser, têm-me
ajudado a memorizar formas de conjugar, com alguma correcção, as suas irregularidades, ajuda-me a ser flexível e a ter uma certa percepção do tempo, o que a experiência me faz ver como o mais importante do verbo…
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