Circunvalação
à Industrial
aos meus professores
aos meus pais
Cotovelo apoiado na mesa, o professor não se apercebe
do olhar a fugir pela janela, do giz que se evade
do quadro e da matéria inerte dos livros.
A pé, não fica longe daqui a academia
aberta por Abril às vocações humildes da periferia.
Quero ousar ir para lá. Dizem-me poder abrir portas com
notas
e ser aceite num colégio de santos espíritos.
(Imagino o honesto estudo misturado com anseios
adolescentes acarinhados por o sangue analfabeto dos
avós.)
Do outro lado da estrada há promessas de conhecimento,
de diplomas vetados a passados familiares.
A via rápida é uma fronteira de carros em movimento.
Alguns dos que para o outro lado passaram de si inseguros
vestem trajes negros, gritam regras e regem-se por
estatuto
que lhes proíbe luto por os que pereceram atropelados.
Então, estás a
prestar atenção?
Ter tão pouca idade
não me permite ir
mais além da circunvalação,
ir lá a cima e voltar ao bairro,
ao perímetro da cidade,
ciente da verdadeira faculdade
ser onde se está, curioso, nesta escola viva,
que me ensina imperfeita, mas por todos e para todos.
Desculpe professor,
estava distraído.
Eu já sei a
matéria, os meus pais viveram
a Revolução Industrial.
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