Tenho o meu filho mais velho a dormir com o seu primeiro dente caído debaixo do travesseiro. Por aqui quem se encarrega desta tarefas dentífricas é o «Ratoncito Pérez», apesar de eu não saber muito bem se vem e deixa uma moeda em lugar do dentinho. Em Portugal é a Fada Dentinho, se não me engano. Não me lembro bem como foi quando era miúdo, lembro-me de linha preta da caixa de costura da minha avó e de puxões precisos, como o que dei ao seu dente mas com fio-dental previamente atado pela sua mãe. Não havia nada em troca para além duma janela no nosso sorriso, quanto muito um desejo se nos desfazíamos do nosso dente atirado para cima do telhado. Algo em mim quer recordar-se dum lançamento para cima da barraca do quintal da Rua Reguengos de Monsaraz. Não confio nessa imagem, é mais uma dessas a penderem por um fio da minha memória, mas a de hoje ficará bem grafada. Não apenas por mim, mas por ele, pois acabo de encontrar uma carta dirigida a um roedor espanhol debaixo da almofada do meu filho, lá tem escrito com a sua grafia e ortografia de primeira classe: «Ratoncito Pérez, quiero una pistola de Sendokai, sólo eso».
Não entendi muito bem o tipo de pistola, deve ter a ver com algum desenho animado da moda, mas desde já não sei se o rato vai na conversa. De momento, deixou-lhe lá um euro, que era o que tinha na carteira, e quanto à pistola há que se estudar se é para fazer tiro ou alvo ou ir à caça, pois uma criança com tantos dentes ainda por cair e armada é um perigo em potência.
segunda-feira, maio 01, 2017
Ratoncito Pérez
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