É verdade, não costumo escrever muito sobre o meu filho mais
novo. Os segundos têm a sorte (ou não) de terem as portas escancaradas ao mundo
pelos irmãos mais velhos e os pais já não são tão maçaricos como na primeira
vez.
Há alguma diferença de idade entre eles, quatro anos, exactamente
os mesmos anos que me distam da minha irmã mais velha.
Porém, foi ele quem hoje, desde a sua inocência quase a
fazer dois anos, me fez pensar como por aqui andamos, como vivemos, como somos
uns para os outros.
Todos os dias vou buscá-lo ao colégio de bicicleta. Ele
herdou a cadeirinha do irmão e lá vem, tipo lord num riquexó, com o seu
capacete azul a saudar toda a gente tipo papa ou rei. É um puto simpático,
digo-o com todas as suspeitas que podem cair num pai.
E lá vem ele a dizer adeus a toda a gente e a dizer “¡Hola!”
tão feliz do seu protagonismo infantil que lá se vai safando e recolhendo
frutos como se de um monarca querido pelo povo se tratasse. E com apenas dois
anos é melhor que a maioria dos adultos com quem se cruza.
Já o disse mais que uma vez, neste mundo, em que se perverte
o nome “mãe” com uma bomba lançada pelos EUA, a amabilidade está em vias de
extinção. É quase considerada uma fraqueza, uma debilidade de ser. Voltemo-nos
para dentro, para o tão útil, mas tão frio smartphone, para a tão acessível e desconectada
da realidade Internet, para o mutismo da voz e para a paralisia facial a apagar
sorrisos.
O puto não sabe nada da vida e sabe que com sorrisos cativa
a gente, que engata gajas (para brincar claro) no parque, que sempre será
acarinhado por um idoso. E, sabe bem, se chorar mama, mas se for simpático é
feliz lá à maneira dele.
Tudo isto porque também eu acredito que tenho de tentar
sorrir a maior parte do meu dia e tenho prazer em tentar viver com amabilidade.
É fácil com ele enquanto é bebé, mas nem sempre será assim. Vai crescer. Vai
ver que não podemos estar para aí a oferecer sorrisos a torto e a direito, que
muitas vezes te estás a rir, mas estás a mostrar ao outro que não és estúpido e
que não lhe permites a sua toxicidade. Em resumo, é fácil enquanto eles são
pequenos. Depois vem a maioria hormonal descontrolada que corrompe a alegria da
infância e, desculpem-me o termo, estão mais parvos que uma porta. E as portas
só servem para abrir e fechar e salvaguardar/ocultar qualquer coisa. Pena que
não ocultam a estupidez. E lá vão eles a subir escada a cima e a cruzarem-se
contigo. Dizes-lhes “olá, bom dia” e nem à merda te mandam. Deixo-os ir como
deixo ir os meus dejectos sanita a baixo.
Preocupante é ver os modelos adultos que têm. Criticam a sua
conduta, opinam o mesmo que eu opino em linhas diarísticas com valor de
exorcismo, mas não dão o exemplo. Não lhes ensinam a sorrir, a cumprimentar, a
serem corteses.
O meu filho sente-se um rei de riquexó, mas não tem o rei na
barriga. Que curta enquanto pode. O seu riso é o melhor. Quando o abandonar
pode ser que se volte a rir da estupidez de o ter abandonado.
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