O trabalho da terra é duro. Dá trabalho. Mas de todos os que tenho feito até hoje é o mais propício à contemplação.
Fi-lo ao lado de quem me cuida, da minha cúmplice de todas as horas, de quem quase nunca lê o que escrevo a diário, mas está nas entrelinhas. Desde umas entrelinhas de compassos das nossas árvores futuras, adubámos o sonho, à mão, de colheitas sustentáveis de frutos.
O ritmo era o nosso, o de aproveitar ao máximo o momento, ainda por cima com o apoio esporádico dos avós que brincavam e, como nós, espalhavam adubo na infância dos dois netos.
Já tomei banho, já limpei as botas e o pó da roupa da lavoura e o cheiro a adubo continua a sentir-se nos dedos das minhas mãos. Espero que ajude a crescer as boas obras. Reconheço ter primeiro pensado como alguém que necessita mais do que pão para viver. Mas quando o pensamento se materializa com a minha realidade, com a minha possível vaidade, volto ao princípio, aos valores para mim primordiais, a esses de trabalho e de terra. Dos anos significativos em que fui um escuteiro de terceira, ficou essa frase que tanto sentido fez, e ainda faz, para o meu mundo: «tenta deixar o mundo um bocadinho melhor do que o encontraste».
Como não sou megalómano, sei ser capaz desse «bocadinho». Tenho uma cúmplice nessa missão, ela sabe bem disso...
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