Mais uma noite privado do sono. Ao lado dormem os vértices do meu dia-a-dia. Fico grato pelo seu descanso, pelo seu sono reparador e esperançoso dum crescimento sem tantas noites brancas como as dos meus últimos tempos.
Na mesa de cabeceira, o findar de tantos livros e o ocaso consciente dum poeta octogenário. Procuro-o com a frequência do discípulo, porém, sempre, humildemente, me nega esse privilégio. Confessa-se vítima de tantas noites às voltas com o clarão do nada quanto eu. Tenho medo. Compreendo-o tanto que não quero ter mais dele que a sua companhia. Rejeito este copo cheio de veneno hiperestimulante, cafeína traiçoeira que não tomo à noite, esta luz dentro de mim a encandear-me os sentidos...
Sei que ele não se ri tanto quanto eu. Nem quando partilhávamos a mesma idade. Sei que ele não é meu mestre, apesar da terra plana debaixo das unhas. Somos companheiros de insónia. Um vivo e outro morto. Quem é quem, pergunto-me.
É fácil. Os mortos não se levantam da campa para urinar.
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