domingo, abril 16, 2017

«Paterson» ("Se alguma vez me deixares/Chorarei por o meu coração arrancado/E nunca o poderei sarar")

O motorista de autocarro sempre com o dia-a-dia apontado num bloco de notas. Li um breve resumo, li até mesmo uma crítica - coisa que pouco faço e não me fio -, e fiquei com muita vontade de ver o Jarmusch a contar-nos uma história de um poeta com o nome da sua localidade. Paterson. 
O bloco de notas é esse denominador comum em tantas almas que se escrevem. Motorista, garçon, costureira, empregada de comércio, médico, etc. Um professor e escrever, mesmo com o bloco de notas, não é denominador comum. É lugar-comum. 
Durante anos tentei ocultá-lo por me parecer demérito tentar grafar arte quando o meu ganha-pão é ensinar (e, por vezes, a intrusão de analisar) arte e uma língua.
Deixei de analisar-me tanto. O ensino cada vez se resume mais a aprofundar didácticas lúdicas a magote do nosso esforço, da nossa vocação, para professar programas com standars minimíssimos de avaliação. Professo o que posso, verbos, funcionamentos da língua, alguma da sua literatura, cultura geral para que, especificamente, aprendam qualquer coisa. Trago pão e consciência honrada para casa. Aceito o lugar-comum. Sei que não sou só professor. Esse é o meu denominador comum, quem sabe com quem... Mesmo sem ver o "Paterson", não me importaria que fosse com ele.


Nota «nerd» para os meus filhos (se alguma vez lerem este diário) e não :
O Paterson e o Kylo Ren são a mesma pessoa! O poeta e vilão. Ambos necessitam duma coisa - estilo.

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